Vasilopita (Βασιλόπιτα): O Pão de São Basílio

Vasilopita é o nome grego para o tradicional pão de São Basílio. É um dos costumes gregos mais importantes na véspera do Ano Novo. Nas casas, o pão é trazido para o centro da mesa de 1º de Janeiro assim que o relógio marca meia noite, cortado em pedaços e distribuído aos convidados pelo anfitrião. A Vasilópita contém uma moeda em seu interior, e o costume conta que aquele que a encontrar será especialmente abençoado durante o novo ano.

São Basílio, o Grande, e o Início do Ano

São Basílio, santo hierarca da Igreja, também participa do ano litúrgico com a distribuição de presentes a entes queridos. Na Grécia, costuma-se distribuí-los no primeiro dia do ano, não no Natal, apesar de que na Grécia a figura do Papai Noel é chamado de Άγιε Βασίλη (São Basílio). Diferentemente do Brasil, onde o comércio associou à figura de São Nicolau por influência dos países de língua inglesa em que ela se chama Santa Claus – derivada de Saint Nicholas ou São Nicolau.

A Vasilópita na tradição cristã está relacionada a história do milagre ocorrido na época de Basílio o Grande.

Origem da Vasilópita

Num certo ano, durante um período de terrível fome, o imperador impôs um tributo excessivamente pesado ao povo de Cesareia, cidade onde São Basílio residia. O imposto era um fardo tal que as famílias já empobrecidas, para evitar a prisão de seus membros, tinham de abrir mão de suas poucas moedas e jóias, mesmo as de herança de família.

Sabendo desta injustiça imposta ao seu rebanho, São Basílio tomou seu bastão de bispo e o livro dos Evangelhos e saiu em defesa de seu povo, chamando corajosamente o imperador ao arrependimento. Pela graça de Deus, o imperador se arrependeu! Cancelou o imposto e instruiu seus arrecadadores a entregar a São Basílio todos os baús contendo as moedas e joias que haviam sido recolhidas como impostos pelo povo de Cesareia.

São Basílio, porém, enfrentava agora a tarefa assustadora e impossível de devolver os milhares de moedas e joias aos seus respectivos e legítimos proprietários. Depois de orar por muito tempo diante dos ícones de Cristo e da Theotokos, colocou todos os tesouros em uma enorme pita (um pão doce). Chamou os habitantes da cidade para a oração na catedral e, após a Divina Liturgia, abençoou e cortou a pita, dando um pedaço para cada pessoa. Milagrosamente, cada proprietário recebeu em seu pedaço de vasilópita seus próprios objetos de valor. E todos voltaram alegremente para suas casas, dando graças a Deus que os tirou da pobreza.

Recordando este milagre operado por Deus como resultado do amor e defesa de São Basílio por parte de seu povo, os cristãos ortodoxos têm observado a tradição do Vasilópita a cada ano em 1º de janeiro – a data em que São Basílio repousou no Senhor no Ano da Salvação 379.

O Corte do Vasilópita

O 1º Dia do Ano é um feriado da unidade familiar e também celebrado nas paróquias com a liturgia de São Basílio. É significativo que o pai da casa seja o responsável por dividir o Vasilópita em pedaços e distribuir aos convidados.

O primeiro pedaço cortado é tradicionalmente reservado para Cristo, ensinando-nos que devemos oferecer ao Senhor as primícias de suas bênçãos. O segundo é para a Mãe de Deus, a Virgem Maria, e o terceiro para São Basílio. O próximo é para a família da casa que hospeda o evento e assarão a pita; este pedaço, em maior tamanho que o habitual, é fracionado em tantos outros pedaços quanto os membros desta família e seus convidados. Finalmente, um pedaço é sempre cortado e reservado aos pobres, lembrando-nos de sempre compartilhar uma parte de nossas bênçãos com aqueles que estão em necessidade. Escondida dentro de um dos pedaços do vasilópita está uma moeda ou uma pequena joia. A pessoa que recebe a peça com a moeda recebe uma bênção especial. Tudo isso se baseia nos ensinamentos do santo: «Aquele que trabalha não deve trabalhar para servir suas próprias necessidades, mas para cumprir o mandamento do Senhor, que diz: ‘Eu estava com fome e me deste de comer’» (Mt. 25, 35).

O corte do vasilopita é uma cerimônia tradicional especial, carregada de significados. À semelhança dos tempos da Didaquè (livro dos apóstolos, 60 D.C), que conta que durante a Divina Liturgia, o Sacerdote levantava o pão com as mãos, e diria uma oração que tinha o significado de lembrar que o pão sagrado é composto por grãos colhidos de várias montanhas diferentes, e ainda assim constitui uma unidade, assim também o poder de Deus pode reunir toda a Igreja a partir de todos os cantos do mundo, para o Reino de Deus. Em outras palavras, todos os cristãos que vivem em várias terras e nações constituem a Igreja Ortodoxa, que vai além das nações e pátrias e se move em direção ao Reino dos Céus.

Outro significado é a busca pela longevidade. O corte do vasilopita é associada aos votos de que outras pessoas tenham saúde ao longo do ano, bem como vivam por muitos anos. A expectativa de longevidade atua como a lembrança da imortalidade da alma e uma indicação da busca pela eternidade. As pessoas sentem que toda a sua existência não é limitada, mas se estende além da vida natural.

O terceiro significado é a busca da felicidade. A palavra «felicidade» (em grego ευτυχία/eutychia) consiste em duas palavras que significam a «boa sorte» para que em todas as coisas possa haver êxito. Na Igreja Ortodoxa não se fala em sorte no sentido laico, mas na Providência de Deus que dirige o mundo, assim como também falamos na cooperação, ou sinergia, entre Deus e os homens. Celebramos a felicidade como garantia da vida eterna, independente da plenitude ou falta de bens materiais

O serviço litúrgico

Durante os séculos, a Igreja desenvolveu um serviço especial de corte do vasilópita, com enorme significado.

No início do serviço, entoamos o hino de despedida da festa coincidente do calendário da Circuncisão do Cristo, o hino de despedida para São Basílio, o Grande, e o kondakion para o Ano Novo. Em seguida, o Bispo ou o Sacerdote dirige orações a Deus para abençoar o novo ciclo anual da bondade do Senhor, para que seja pacífico e salvífico e, também para abençoar todos os que estão presentes no serviço sagrado.

Por fim, lê-se a correspondente oração em que suplica a Cristo, que tem poder sobre os séculos e dirige nossas vidas, para abençoar nossa entrada no novo ciclo anual da bondade do Senhor e abençoe os pães que os cristãos ofereceram à honra e glória de São Basílio, o Grande. Ele então suplica a Deus para enviar sua graça sobre aqueles que a prepararam, os presentes e os demais. Então uma confissão é ministrada aos que esperam o Deus vivo. São realizadas súplicas a Deus para que abençoe o ano de início ao fim, para multiplicar em nossas vidas coisas boas, e que Deus possa dirigir nossos passos na observância de seus mandamentos divinos, porque, como se diz, o homem não vive só do pão, mas também precisa de alimento espiritual. Todo o serviço converte e integra o evento social e familiar no evento espiritual e paroquial

Receita

Ingredientes:

  • 250 g de manteiga
  • 250 g de farinha de trigo
  • 6 ovos inteiros
  • 180 g de amêndoas trituradas
  • 700 g de açúcar cristal
  • 1 colher de chá de fermento
  • 1 copo suco natural de limão siciliano (ou outro cíctrico)
  • Decorações: Açúcar de confeiteiro (recomenda-se fazer o próprio açúcar de confeiteiro batendo açúcar cristal pois o pronto normalmente tem maisena), amêndoas em lascas e nozes diversas

Preparo da Vasilopita

  1. Deixar todo o material a temperatura ambiente.
  2. Em uma tigela média, bata a manteiga e o açúcar até formar um creme uniforme claro. Adicione os ovos um de cada vez, misturando bem após cada adição. Na mesma tigela, adicione o suco e a amêndoa triturada e bata até uniformizar.
  3. Adicione peneirando a farinha de trigo enquanto mexe o bolo até terminar toda a farinha.
  4. Unte a forma e, caso deseje, utilize o papel manteiga.
  5. Asse o bolo a 170 graus por uma hora.

Esconda a moeda ou pequena joia, utilize a decoração e o açúcar de confeiteiro também para esconder o buraco da entrada da joia.

Seleção de imagens

Referências:

Tradução por Máximo Cardoso, Marcelo Boratto e Arquimandrita André Sperandio.

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