25/11/2016: A Divina Liturgia nas comemorações de Santa Catarina de Alexandria, em Florianópolis

Na manhã de hoje, 25 de novembro de 2016, Dia de Santa Catarina de Alexandria, S. Eminência Dom Tarasios, Arcebispo Metropolita de Buenos Aires, Primaz e Exarca da América do Sul – Patriarcado Ecumênico -, ocupou o sacro-trono da Igreja de São Nicolau, de Florianópolis, de onde conduziu as celebrações de Matinas e a Divina Liturgia no contexto das celebrações da festa de nosso padroeira e na presença de suas relíquias. Concelebraram a Divina Liturgia, acompanhando o pároco, Arquimandrita Agathangelos, os hieromonges (sacerdotes-monges) Pavlos e André, da Igreja Ortodoxa São João o Teólogo, de São José – SC e, assistindo o Arcebispo, o Hipodiácono grego Stathis Zanakis. No final da Divina Liturgia o Arcebispo, após homenagear a Sra. Catarina Komninos por seu onomástico, presenteando-a com um pingente da Panaghia, dirigiu palavras de agradecimentos aos presentes, ressaltando a importância desta festa para a Ortodoxia em Florianópolis e em todo o Brasil e incentivando todos os esforços no sentido de fortalecer esta que já vai se tornando parte de nossa tradição. Ao final, distribuiu aos presentes um belo ícone (imã de geladeira) de Santa Catarina e um kombuskini de pulso.


HOMILIA DE S.E.R. DOM TARASIOS,
O ARCEBISPO METROPOLITANO DE BUENOS AIRES
POR OCASIÃO DA DIVINA LITURGIA
NO DIA DA FESTA DA GRANDE MÁRTIR
SANTA CATARINA DE ALEXANDRIA

Florianópolis, 25 de novembro de 2016

Sacro Clero,
Piedoso povo de Deus,
Queridos amigos

Hoje celebramos com alegria a festa de Santa Catarina de Alexandria, virgem e mártir. É já uma festa tradicional em nossa paróquia de Florianópolis e neste estado brasileiro que a honra como sua padroeira. Fazemos isto compartilhando juntos a Divina Liturgia e o ágape, evocando experiências, entoando com vozes vibrantes seu hino apolitikion e buscando imitar o seu exemplo de uma “fé decidida”.

Minha gratidão a esta paróquia e a todas as pessoas que aqui vivem e trabalham, que nos abrem suas portas e nos recebem com alegria cada vez que visito esta linda cidade do Sul brasileiro. A Eucaristia, sacramento da piedade, sinal de unidade e vínculo da caridade, nos congrega em torno do mesmo pão e do mesmo cálice, corpo e sangue do Teântropo Cristo, fonte da comunhão e da fraternidade de nosso presbitério e do povo com o seu Bispo local. Mas hoje nós também entramos em comunhão com Santa Catarina de Alexandria, celebramos a sua memória, imitamos o seu exemplo e imploramos a sua intercessão no céu.

O Martirologium Romanum informa de maneira breve, mas muito caracteristicamente que: “Santa Catarina, virgem, que, segundo a tradição, foi uma virgem de Alexandria dotada, tanto de uma aguda sagacidade e sabedoria, como de fortaleza de ânimo”. Podemos dizer, sem forçar muito a realidade das coisas, que Santa Catarina estava enraizada na fé da Igreja, tal como se vivia na Alexandria dos séculos III e IV. Esta cidade que, na antiguidade, era uma “cidade símbolo” da encruzilhada cultural do helenismo. No século III, São Clemente de Alexandria, assumindo e transformando o ideal educativo do mundo clássico, apresentava Cristo como o Grande Pedagogo, como o que nos guia para a verdadeira filosofia, que não é um mero saber teórico, mas uma força de vida que combina conhecimento e amor.

À luz da tradição, podemos destacar dois aspectos fundamentais da vida de Santa Catarina: a sabedoria e a fortaleza, que correspondem perfeitamente com a dupla condição de filosofia e martírio. Estas duas notas que, por outra parte, ficam tão bem nos sacerdotes, para discernir com sabedoria a vontade de Deus e para ser testemunhas corajosas e alegres da fé neste mundo tão necessitado disto.

Em relação com a sabedoria, o reconhecimento público da fé –“homologia” – inclui, como põe de manifesto o exemplo de nossa santa, o recurso da razão e a palavra.

No que se refere à fortaleza da fé decidida, observamos no mundo de hoje uma dramática luta entre o secularismo radical e a fé decidida. Hoje celebramos a festa de Santa Catarina, uma mulher de fé decidida. Uma mulher buscadora da verdade – e é por isso que, no Ocidente, é patrona dos filósofos -, que quando a encontrou em Cristo, deu corajoso testemunho dela com sua palavra, sua vida e também com o seu martírio.

Os mártires, com o exemplo eloquente e fascinante de uma vida completamente transfigurada pelo esplendor da verdade sobrenatural, iluminam cada época da história, despertando o sentido espiritual mais vívido. Testemunhando o bem, representam uma reprovação viva a quantos transgridam a verdade, fazendo ressoar com permanente atualidade as palavras do profeta: “Ai dos que ao mal chamam bem, e ao bem mal; que fazem das trevas luz, e da luz trevas; e fazem do amargo doce, e do doce amargo!” (Is 5, 20).

É bom e também necessário para todos nós, na situação em que nos encontramos, fazer memória dos santos, eles que nos mostram com suas vidas e com suas mortes que é possível uma outra forma de viver, que as palavras de Jesus não são uma utopia irrealizável, que se pode vencer o mal com o bem. Santa Catarina, com a sua vida e com a sua morte, nos ensina que vale a pena buscar a verdade, uma verdade que não é apenas uma doutrina ou um ensinamento moral, mas uma Pessoa: Cristo; e, uma vez encontrada esta Verdade, dar testemunho corajoso d’Ela.

Amados filhos e filhas,

Que o exemplo de Santa Catarina mexa com nossa mediocridade e medo, mostrando-nos que a vida é para ser vivida plenamente e com sentido; que, o que alcança a vitória final e o prêmio é pôr-se ao lado da verdade, e não da conveniência e do “politicamente correto”.

Embora vivamos neste mundo, não pertencemos a este mundo (Jo 15, 19; 17,11 e 16). O mundo é criação de Deus e manifestação do seu amor. Em Jesus Cristo e através dele recebemos a salvação de Deus e nos tornamos capazes de discernir o avanço de sua criação. Jesus nos abre as portas do novo para que, sem medo, possamos abraçar com amor as feridas da Igreja e do mundo. Em nosso tempo atual, que manifestam os aspectos mais difíceis e complexos, como no passado, quando ainda éramos o “pequeno rebanho” (Lc 12, 32), ofereçamos o testemunho da mensagem de salvação do Evangelho e sejamos sal da terra e luz de um mundo novo (cf. Mt 5, 15-16).

Que a Divina Liturgia que celebramos nos leve à ação de graças ao Pai, que glorificou Santa Catarina de Alexandria, e que Ele nos conceda, por sua intercessão, a fortaleza para testemunhar a sua Verdade neste mundo. E que a sua sabedoria e força nos leve a fazer uma experiência profunda de Deus, e a sermos fortes e alegres testemunhas de Cristo na prática diária de nossa fé cristã. Amém.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *