Relíquias de Santa Catarina de Alexandria

Igreja Ortodoxa Grega de São Nicolau de Florianópolis guarda relíquias de Santa Catarina trazidas do Monte Sinai, Egito

Existem duas relíquias de Santa Catarina no estado. Uma delas encontra-se na Igreja Ortodoxa Grega São Nicolau, no centro de Florianópolis; a outra,  na capela a ela dedicada, construída para guardar suas relíquias, em frente ao Tribunal de Justiça de Florianópolis. 

A história da chegada das Relíquias em Florianópolis

Em 1999,  Dom Gennadios, Arcebispo grego ortodoxo da América do Sul, já próximo da idade de se tornar emérito, decidiu fazer uma visita pastoral às comunidades do Brasil. No roteiro estava a comunidade de São Nicolau, da Ilha de Santa Catarina (Florianópolis). Na agenda oficial, Mons. Angelos Kontaxis, reitor paroquial, havia incluído uma visita protocolar ao então governador do Estado, Dr. Esperidião Amin, no Palácio do Governo, à época, situado em frente a sede do Poder Judiciário. Durante uma conversa informal, ao fim da reunião, Dom Gennadios indagou o governador sobre o nome dado ao nosso Estado, que motivações teriam levado à escolha da Santa como patrona. O governador mencionou, então que teria sido dado em 1526 pelo navegador Sebastião Cabotocomo homenagem a sua esposa que se chamava Catarina e também porque era 25 de novembro, dia de Santa Catarina de Alexandria (1), ao que um dos membros da comitiva comentou que o corpo da Santa encontrava-se preservado no Egito, guardado pelos monges da  comunidade monástica do Monastério a ela dedicado, aos pés do Monte Sinai.  Um representante do executivo perguntou então sobre a possibilidade de conseguir que o Monastério presenteasse o Estado com uma relíquia de sua padroeira. Dom Gennadios assumiu a missão, dispondo-se  a fazer os contatos com o Bispo-abade do Monastério neste sentido. Tudo encaminhado com êxito, o  designado para buscá-la no Egito foi Mons. Angelos Kontaxis, Reitor Paroquial da Igreja Ortodoxa Grega de Florianópolis.

Mons. Angelos havia chegado ao Brasil em 1950, fixando-se no Rio de Janeiro. Após assistir ao golpe militar, exilou-se nos Estados Unidos em 1966, onde passou a trabalhar em Chicago com serviço social. Depois, saudoso do país, voltou ao Rio de Janeiro em 1991 e, assustado com o aumento da criminalidade, procurou, em 1992, a cidade de Florianópolis, parecida com o Rio de Janeiro que deixara 31 anos antes, assumindo a reitoria paroquial da comunidade de São Nicolau. Poliglota, foi enviado para tratar com os monges do monte Sinai.

Em outubro de 1999, com auxílio financeiro do Estado, Mons. Angelos Kontaxis embarcou em uma viagem de dois dias com destino a cidade do Cairo, capital do Egito. Depois, percorreu de automóvel aproximadamente oito horas até alcançar o Monastério, na cidade de Santa Catarina de Alexandria, ao sul da península do Sinai, levando consigo bandeiras e suvenires de nosso estado.

À sua espera, abade Damaskinos, do Monastério, logo foi pondo à disposição o regalo:

— Padre Angelos, aqui está o ícone para sua igreja!

— Han … deve haver um pequeno engano, disse o Monsenhor. Não é para a igreja, mas para o governo de nosso Estado.

—  Para o governo?

—  Sim, como havíamos tratado ao telefone.

— Mas, para o governo? Jesus disse: ‘A César o que é de César e a Deus o que é de Deus.’ Política e religião não se misturam. A relíquia não vai! Esquece (…)

Para assegurar que traria as relíquias da Santa, Monsenhor Angelos submeteu-se a uma rigorosa sabatina, sendo questionado por cerca de 20 monges da comunidade monástica, do mais jovem ao mais idoso. Um ancião perguntou: — Onde se situa este país, quanto tempo de viagem até aqui? Outro, recém-convertido, quis saber dos riscos para a relíquia: — Como podemos ter a certeza de que não farão mal uso da relíquia? Nada sabemos sobre este governo. Monsenhor teve um rápido lampejo e soltou a resposta. — Na capital, Florianópolis,  temos um Mercado Público Municipal. Ali, árabes, gregos, coreanos convivem felizes e harmonicamente com brasileiros. Povos do mundo inteiro, são vizinhos, conversam e, no fim do expediente, comem alguma coisa juntos.  Perplexos, perguntaram: — Isso existe mesmo? E, assim, o abade do Monastério reconheceu a habilidade discursiva de Mons. Kontaxis, mas quis ainda testar sua fé na Santa. Pois bem, propôs-lhe, então uma missão: —O senhor subirá ao Monte Sinai, lá onde Moisés recebeu as tábuas dos Mandamentos, e trará de lá uma pequena pedra. Já com idade de 76 anos, ajudado por uma bengala para não abusar da artrose, Mons. Kontaxis subiu o Monte e trouxe, não apenas a pedrinha para o abade, mas também uma para o Brasil, conservada na capela com as relíquias da Santa, no Tribunal de Justiça de Santa Catarina. Encontra-se, portanto, ao lado do ícone que porta a relíquia. O ícone foi abençoado e pintado à mão por monges do monastério e guarda um pedaço da quinta costela direita da santa, com 1709 anos de idade.

Para recebê-la com a devida dignidade e reverência, conforme pedido do abade, o então presidente do TJSC, Dr. Francisco Xavier Medeiros determinou a construção de uma capela ecumênica em um território neutro onde estaria guardada em segurança a relíquia. Em agradecimento, o monastério enviou a terceira relíquia, um pedaço considerado gigante da quinta costela direita da santa, do tamanho aproximado de uma unha.

NOTAS:
…………………………………..
(1) O nome de Santa Catarina foi dado em 1526 pelo navegador Sebastião Caboto. Teria sido uma homenagem a sua esposa que se chamava Catarina e também porque era 25 de novembro, dia de Santa Catarina de Alexandria. Os principais historiadores, como Humberto Correa, Walter Piazza e Osvaldo Cabral concordam com esta versão. Depois toda a província foi chamada de Santa Catarina.

Fonte:  Com informações e fotos do Portal TJ SC
Textos/Pesquisa: Gustavo Lacerda Falluh
Fotos/Reproduções: Heloísa Medeiros

 

Apolitíkion de Santa Catarina de Alexandria