A Colônia Grega de Florianópolis

Igreja de São Nicolau

A Igreja Grega Ortodoxa São Nicolau está situada à rua Tenente Silveira, nº 494, no centro de Florianópolis. As missas, realizadas aos domingos, das 10 às 11 horas, contribuem para manter a colônia unida e preservar as tradições. A Igreja Católica Ortodoxa, religião predominante na Grécia, é muito semelhante à Igreja Católica Apostólica Romana, da qual se separou oficialmente em 1054 d.C. “A igreja ortodoxa permite ao padre se casar, tem pinturas em vez de imagens, mas as orações são praticamente as mesmas”, diz Syriaco Spyros Diamantaras. Sua construção teve início em 1936, sob a responsabilidade da firma João Baptista Berretta & Cia. Após a interrupção de alguns anos, coube a Wildi & Rau Ltda. terminá-la no ano de 1963. Sua arquitetura é simples, semelhante às demais igrejas gregas, apresentando alguns aspectos do estilo bizantino. No seu interior, observamos três partes distintas. A sagrada, denominada santuário ou ieró, o salão que abriga os fiéis e o mezanino. A parte sagrada onde está situado o altar, é separada do salão que abriga os fiéis por uma divisão sólida chamada iconostase. Nesta parede estão os ícones tradicionais da Igreja Grega Ortodoxa, obras do pintor Malinverni, natural de Lages.

Outros ícones, em número de 10, foram trazidos da antiga Igreja da rua Conselheiro Mafra, e são obras do artista catarinense Eduardo Dias, e estão localizados nas paredes laterais da Igreja. À frente da iconostase, em plano superior ao salão, à direita do altar observa-se a cadeira destinada à autoridade episcopal, em visita à Igreja. Ao seu lado, em plano imediatamente abaixo, localiza-se o psalti, apoio de madeira destinado à partitura do cantor. A parte destinada aos fiéis, além dos bancos tradicionais, possui na sua entrada à esquerda um iconostásio com São Nicolau.

Um evento bastante concorrido é o Lanche de São Nicolau, uma atividade beneficente realizada às terças-feiras, cada vez na casa de uma associada. A tradição mantém-se desde 14 de julho de 1951, quando Kiriaki Nicolau Spyrides ofereceu a primeira recepção a senhoras da religião ortodoxa e pessoas que falavam o grego.

Nos casamentos, como de Priscila e Giovane, os noivos e convidados fazem o ritual de “quebrar pratos”, uma maneira de desejar alegria e prosperidade aos noivos. Outro costume é jogar amêndoas e dinheiro sobre o casal, para desejar-lhe doçura e riqueza.

Nem sempre os descendentes optam por fazer a cerimônia tradicional, mas o casamento ecumênico permite aos parceiros e filhos obter a dupla nacionalidade. Os descendentes preservam também as datas importantes, como 25 de março, dia da Independência da Grécia em relação aos turcos otomanos, e o dia 28 de outubro, Dia do Oxi,

o Dia do Não, marcando a ocasião que o primeiro-ministro grego João Metaxás opôs-se à ocupação da Grécia pela Itália na Segunda Guerra Mundial. A Páscoa, importante também para os ortodoxos, nem sempre coincide com a dos católicos romanos, pois a comemoração segue o calendário bizantino. Uma curiosidade é que o ovo usado não é de chocolate, mas um ovo comum cozido pintado de vermelho e coberto por papel celofane. “Existe um ritual em que duas pessoas pegam cada uma um ovo, fazem um pedido, e batem um contra o outro. Aquela que conservar o ovo intacto tem o desejo realizado”, diz Alceu Atherino Neves.

 

Geração atual: síntese de duas culturas

Absorvida pelo meio, população grega mantém tradições e agrega novos costumes.

Florianópolis – Após três ou quatro gerações desde a primeira leva de imigrantes gregos, a identidade cultural da colônia já não é tão forte, tendo ocorrido, como diz Savas Apóstolo Pítsica, uma “síntese cordial entre as duas culturas”.

Para fazer a apresentação de dança da comunidade grega na Festa das Nações, em agosto passado, por exemplo, foi preciso trazer um grupo de Curitiba para apresentar o sirtáki e o kalamatianós.

“Embora não tenhamos hoje um grupo de dança, estas são praticadas durante as festas”, defende Pítsica. Mesmo as missas já não têm a mesma participação da comunidade.

“Infelizmente, a igreja muitas vezes fica vazia aos domingos”, diz Syriaco Spyros Diamantaras, tesoureiro da Associação Helênica.

“Tentamos levar mais jovens à celebração, mas atualmente são poucos os que vão”, afirma Augusto Atherino Neves, de 22 anos. O idioma, muito frequentemente usado em conversas nos cafés frequentados pelos gregos das primeiras gerações, hoje raramente é falado. “Poucos conhecem a língua. A terceira geração mal sabe dar bom dia”, diz Diamantaras. O jovem Augusto Neves já fez aula de grego na Associação Helênica, mas não domina o idioma.

“Consigo compreender algumas expressões, mas manter uma conversação é difícil”. Segundo Pítsica, que atualmente ministra os cursos da língua no salão paroquial da igreja, “os descendentes, especialmente os das primeiras gerações, geralmente falam o grego, e o utilizam para conversar em casa. Os mais jovens muitas vezes não falam, mas entendem um pouco e conseguem assimilar rapidamente, pois ouviam o grego em casa.” Uma tradição marcante que está se perdendo é o comércio. Os gregos já tiveram a hegemonia no atacado de secos e molhados realizado no centro da cidade, em que eram vendidos produtos importados, vinhos, bacalhau, azeite, charque, frutas natalinas.

Porém, hoje resta apenas a Kotzias Presentes & Utilidades, na Conselheiro Mafra, e ainda assim a loja está prestes a ser vendida. “Antes a rua toda era ocupada pelos comerciantes gregos. A maioria fechou por causa da concorrência com as grandes redes”, diz Estefano Kotzias, proprietário. Em outros segmentos, poucas lojas, como a Casa Kotzias, de tecidos, fundada em 1910, mantêm-se prósperas. Os descendentes dos gregos estão migrando para outras atividades econômicas. “Hoje são quase todos profissionais liberais. A maioria agora trabalha dentro dos consultórios como médico, advogado ou engenheiro”, diz Pítsica, que tem vários parentes nesses segmentos. Embora em seu livro “Os Gregos no Brasil” diga que o núcleo começa a mostrar sinais de desagregação, Pítsica não considera que a comunidade esteja sofrendo aculturação. “Os gregos não estão perdendo seus valores, até porque muitos ainda são da primeira geração. Meus pais vieram de Kastelórizon. Ainda é cedo para fazer uma análise”, diz. A colônia de Florianópolis não recebeu novas levas de imigrantes, e atualmente deve ter cerca de 200 famílias.

Alguns membros da comunidade mudaram-se para cidades como Curitiba e Paranaguá, ambas no Paraná e onde formaram-se novas colônias. Já os gregos de outras regiões do Brasil, como São Paulo e Brasília, geralmente são provenientes de correntes migratórias distintas. “Há 30 anos a colônia em Florianópolis era bem maior. Talvez porque cerca de 90% dos integrantes vieram de Kastelórizon, cuja população se dispersou, não houve renovação de gregos aqui”, diz Diamantaras. Além disso, muitos descendentes se misturaram a famílias de outras origens e mudaram seus nomes.

“Devemos ressalvar que miscigenação não significa aculturação. A população grega está sendo naturalmente absorvida pelo meio, o que acho ótimo. Mesmo a Grécia é formada por várias etnias, que ajudaram a formar seu tecido social. Essa miscigenação social fortalece uma raça”, diz. Os descendentes visitam a Grécia quando possível, mas após a adoção do euro a viagem encareceu bastante. Antes da unificação monetária, a Grécia era um dos países europeus mais baratos para o turismo. “Já fui cinco vezes, mas depois do euro não sei quando poderei ir outra vez”, diz Diamantaras. “Eu e meu irmão ainda não fomos ainda. Sei que o governo grego dá bolsas de viagem e estudo a descendentes, e espero conhecer o país assim que possível”, diz Alceu.

Primeiro padre radicado no Brasil

Arquimandrita João Cryssakis

De forte personalidade, não era procedente de Kastelorizon, como a grande maioria dos gregos, e sim de Smirna (Turquia), que anteriormente pertencera à Grécia. Uma vez por ano, o padre percorre todas as casas dos gregos para benze-las com água benta. E no dia de “Epifania”, “dia dos Reis”, e todo o primeiro domingo do mês, os fiéis na igreja recebem o “agiasmós”, em que o padre benze os fiéis com água benta.

Na “Epifania”, o padre, de batina preta, barrete na cabeça “kalimafki”, empunhando na mão direita uma longa cruz grega e uns ramos de manjericão, e na esquerda, um pequeno balde de prata com água benta, entra nas residências, aspergindo a água com os ramos de manjericão e com a cruz em nossa direção, para a beijarmos, bem como a sua mão. É um momento solene e de grande convicção. Em seguida, o padre grego senta-se à mesa para um café ou se serve de algum doce e continua a sua peregrinação. A preocupação dos gregos era a de conservar a sua religião, portanto, manter um pároco na comunidade.

Assim, podemos citar a presença de inúmeros deles na comunidade:

  • Monsenhor João Chryssakis em 1925;
  • Padre Panayotis Paleológos e Padre George em 1955;
  • Padre Miguel Michalopulos em 1957;
  • Padre Yassif em 1960;
  • Padre Panagiotis Meintanis em 1966;
  • Padre Constantino Paraskevaides em 1971.

O Monsenhor João Chryssakis nasceu em Smirna, em 1898 e faleceu em Florianópolis, em 30 de janeiro de 1971. Foi o primeiro padre grego a se radicar no Brasil, em 1925. Viveu em Florianópolis, durante quarenta anos e lecionou grego durante vinte e cinco anos no Instituto Estadual de Educação Dias Velho, e foi pároco da Igreja de São Nicolau durante trinta anos. Visitava os gregos nas suas datas festivas, juntamente com sua esposa e filhas.

O Padre Miguel Michalopulos exerceu as funções sacerdotais nos Estados Unidos e foi um grande entusiasta e incentivador dentro da comunidade.

O Padre Panagiotis Meintanis veio da ilha de Zakynthos e já construiu cinco igrejas ortodoxas, três na Grécia, uma em Porto Alegre e outra em Curitiba.

O Padre Constantino Parasquevaides veio da Macedônia e foi pároco da Igreja de São Nicolau de Florianópolis.

Fonte: PÍTSICA, Savas Apóstolo “Os Gregos no Brasil” – 1983 .

Primeiras famílias gregas na Colônia de Florianópolis

  • Athanazios
  • Atherino
  • Berçou
  • Christofis
  • Chruyssaki
  • Chrystakis
  • Chrystoval
  • Comninos
  • Constantópulos
  • Dimatos
  • Elias
  • Femanis
  • Garofal
  • Haviaras
  • Ikonomos
  • Joanides
  • Kailis
  • Kalafatás
  • Karabalis
  • Katcipes
  • Komninos
  • Kotzias
  • Lakierdis (Lacerda)
  • Mazarakis
  • Pandazidis
  • Pítsica
  • Savas
  • Serratines
  • Sirydakis
  • Spyrides
  • Stavianou
  • Triantafillis
  • Tzelikis

(Cf. Paschoal Apóstolo Pítsica, Palavras e registros, Florianópolis, 1993, no Item Contribuição para o estudo da genealogia dos gregos na Ilha de SC, p. 173-183).