O Capitão Savas e a Paróquia Kastelorissos no Brasil

Artigo foi publicado em comemoração à união do Dodecanessos com o Continente, a Grécia, festejado em 09 de março de 2008 na Igreja São Demétrio de Astória, New York.

Partiu de Portugal em fins de 1889, viajando para o Brasil, chegou a Desterro onde permaneceu por algum tempo, partindo a seguir para a Argentina, onde chegou em 19 de fevereiro de 1890. Lá, vendeu o seu navio e adquiriu outros 3 navios a vapor: Fegus, Vesúvio e Novo Herimero (de 300-500 toneladas cada um). Nomeou Capitães Iconomos, Tselikis e seu irmão Stefanos para cada um dos barcos. Com a nova frota inaugurou a linha Argentina, Uruguai e Brasil e, com isso, contribuiu para o desenvolvimento das atividades comerciais, econômicas e náuticas nessa região.

Em 1892 o Capitão Savas transferiu a sua sede permanente para Desterro, de onde administrava a sua presença com filiais em montevidéu, Buenos Aires e Paranaguá. Nesse mesmo ano foi nomeado Cônsul da Argentina para o Brasil e representante do Jornal La Prensa, de Buenos Aires. Mais tarde, em 1917 foi nomeado cônsul Geral da Argentina para o Rio de Janeiro.

Em 1895 o Governo do Brasil presenteou o Capitão com 5-lO hectares, isentos de impostos por 10 anos.

Em 1896 comprou mais um navio, Aída, atendendo os principais portos do Brasil.

Em 1901 adquiriu um petroleiro dos Estados Unidos.

Em 1905 comprou uma área de 42 km2 (quase 5 vezes mais do que a área de Kastelórizon) próxima à cidade de Palhoça, hoje transformada em Parque Ecológico com nome de «Parnássos».

Em 1912, o Capitão Savas ofereceu-se como voluntário para lutar na «Guerra dos Bálcãs»’-, mas Venirizelos não aceitou devido a sua idade. No mesmo ano o Capitão trouxe 30 famílias de Kastelórizon, ofereceu-lhes trabalho em suas firmas. Todos eles, os kastelorissos, os que haviam sido trazidos antes e os de agora, estabeleceram-se em Florianópolis. Na mesma época começaram a chegar outros Dodecanissios como Giorgos Haviams, seu sobrinho Giorgio Moscovi, Janis Vansakiadis e Antonakus de Smirna, Stefanos Lambros, de Rhodes e muitos outros gregos que aqui rapidamente progrediram enquanto as famílias cresceram e se desenvolveram.

Em 1925 foi construída a 1ª Igreja Ortodoxa Grega, Ágios Nicolaos, formando-se uma forte comunidade Greco-Ortodoxa.

O primeiro sacerdote pároco de São Nicolau foi o Padre Johanis Crisakis (Arquimandrita João Chryssakis), natural de Smirna, seguido pelo Padre Panayotis Paleólogos e Padre Giorgos. O quarto Padre foi Miguel de Mixalokopoulos de «Axaia», o Padre Yussif (José), o Padre Panayotis Meindanis, de Zákintos e o Padre Constantino Paraskevaides, de Kozani.

Em 2 de outubro de 1926 o Capitão Savas que, com um navio a velas atravessou por três vezes o Oceano Atlântico, deu seu último suspiro. O velório foi acompanhado por toda a comunidade grega e por figuras ilustres. O governo brasileiro, representado pelo seu Ministro Jorge Vitor Konder, declarou por escrito: «o nome do Capitão Savas está intimamente ligado ao progresso do Brasil».

Capitão Savas teve importante papel para a construção do «Novo Kastelórizon» aqui no Brasil, que contribuiu, de certa forma, para o desenvolvimento de uma importante cidade. Centenas de descendentes do Capitão Savas e de outros kastelorissos cresceram, estudaram e despontaram nos mais diversos ramos de atividade, tanto comercial como política, entre muitas outras.

Dentre eles, destacou-se, na política, George Lakerdis que foi Governador do Estado de Santa Catarina e encontrou trágico fim em acidente aéreo em 16 de junho de 1958.

Outro destaque foi o professor da Universidade do Paraná, Theodosios Giorgiou Atherinos.

Quando chegou o primeiro dodecanissios na América latina não se sabe ao certo, mas são conhecidas as listas de Cristóvão Colombo e outros navegadores das Américas a referência a muitos marinheiros com nomes gregos. Nesta época o dodecaneso era uma passagem importante para o trânsito de navios do Oriente para o Ocidente e vice-versa. Portanto, é lógico aceitar-se a ideia da presença de gregos nos primeiros anos de descobrimento da América.

É provável que o primeiro dodecanissio tenha chegado em 1524 com o comandante veneziano Giovanni Verazzno que viajava às ordens do Rei de França, François I, com o «La Dauphine». Verazzno tinha muito boas relações com os IPPOTES de Rhodes, pois viajava frequentemente por aquela região e empregava em seus barcos muitos dodecanissios. Quando chegaram pela primeira vez à América do Norte, o italiano deu o nome de Rhode Island a uma ilha que achou muito parecida com Rhodes.

No antigo palácio do governo de Lima, capital do Peru, hoje transformado em museu, encontram-se os registros das viagens de Francisco Pizarro, o espanhol conquistador, tendo realizado sua primeira viagem em 1531. Ele viajou com 4 navios, partindo do Panamá para o Perú, e em seus registros aparecem os nomes de cada capitão das embarcações, sendo que um deles é o «Capitão Michalis da Isla Casos», o «Capitão Kassiotis».

Há muitos registros de Dodecanissios vindo para a América do Norte, mas muitos deles escolhiam a América do sul, América latina, pois preferiam os povos latinos com quem melhor se identificavam pelos costumes e temperamentos mais abertos e alegres em comparação aos anglo-saxões.

BRASIL

Há mais ou menos 600 km ao sul do Rio de Janeiro encontra-se (o Estado de) Santa Catarina, com sua capital, (a Ilha de) Florianópolis, com cerca de 400 mil habitantes (atualmente, cerca de 500 mil habitantes). A mais central avenida de Florianópolis chama-se Capitão Nicolau Savas, o Kastelorisso Capitão Savas que no século XIX atravessou o oceano Atlântico num navio a vela e formou a primeira comunidade Dodekanissiaki.

Savas, filho de Nicolau e Eudoquia Savas, nascido em Kastelórizon em 6 de março de 1858, estudou na Escola Náutica de Siros e formou-se capitão em 31 de agosto de 1878. Três anos mais tarde adquiriu o navio a vela «Pomba Branca» – Lefki Perecerá I – e com a tripulação formada por seus 2 irmãos Stefanos e Mixalis, e outros conterrâneos, partiu para o Pireus, parando na Ilha de Hidra em 18 de fevereiro de 1882. Só um ano mais tarde chegaram a Brindissi, na ltália, de onde partiram para o Atlântico em 02 de fevereiro de 1883.

Numa viagem de 85 dias, costeando o norte da África até Gibraltar, viajou direto para o Brasil, chegando primeiro à Ilha do Desterro, onde permaneceu por algum tempo, partindo depois para o Uruguai e logo para Buenos Aires, na Argentina. O seu retomo se deu pela costa da América do Sul, entrando pelo Golfo do México até a Flórida. Seguiu aproveitando as correntes marinhas e fez a travessia chegando a Londres. De lá seguiu para o sul, atravessou Gibraltar indo em direção ao Pireus (Grécia), depois para Siros, chegando a Kastelórizon em 19 de junho de 1884.

Em 1885 partiu para Esmirna, chegando a outros portos do Mar Egeu. Voltando a Kastelórizon começou a pensar em uma segunda viagem ao Brasil. Em 1887, com seus irmãos stefanos e Miguel, levando junto seus pais, sua irmã Kirana com o esposo Teodosios Atherino, a outra irmã Anastácia com o esposo, Dr. Constantino Spirides e seus três filhos: Spiros, Nikos e Eudoquia, e mais outros vários Kastelorissos, entre os quais o Capitão Agapito Iconomos e Nicolau Tsilikis, partiu para Rhodes onde chegou em 20 de outubro do mesmo ano. Seguindo para Siros, ali permaneceu por alguns dias. Navegando para o Ocidente, atravessou o Mediterrâneo e chegou a Porto de Castello, em Portugal, onde ficou sediado por quase dois anos, e onde aprendeu o Português.

 

Fonte:

Boletim Kalimera de 2008-mai-jun e 2008-jul-ago.

Texto traduzido pela Sra. Edith Diamantopoulos, extraído de O Clarim Nacional – Periódico de 23 e 24/02/2008.