A contribuição da Igreja Ortodoxa para a preservação da língua, religião, educação, costumes e tradições na Revolução Grega – 25 de Março de 1821


Não existe povo na história da humanidade que não tenha lutado por sua independência e liberdade. A liberdade é um dom concedido por Deus ao homem, com o propósito de que ele a cultive — não apenas para si, mas para o bem da sociedade em que vive. A luta do povo grego, em 1821, pela conquista de sua liberdade foi um ato de sacrifício e autoconhecimento, representando não apenas a preservação de sua identidade como nação, mas também como civilização histórica que expressa, ao longo do tempo, a liberdade humana.
Para os gregos, a liberdade é entendida como uma luta contínua, um presente natural dado por Deus que mantém o ser humano vivo através do Seu sopro vital, permitindo-lhe viver livre de qualquer forma de escravidão. A Revolução de 1821 é celebrada como o marco do início dessa luta, e não do seu fim, já que as fronteiras atuais da Grécia só foram consolidadas com a incorporação do Dodecaneso, em 1947 — ou seja, 126 anos após o início da revolta.
Durante os séculos de dominação otomana, a Igreja Ortodoxa apoiou ativamente o povo em sua luta pela liberdade. Foi o esteio e a “mãe” espiritual da nação, sustentando-a através de sua missão pastoral, educacional e cultural. A continuidade histórica do helenismo caminhou lado a lado com a Igreja, formando dois pilares inseparáveis que, mesmo sob opressão estrangeira, mantiveram viva a identidade helênica.

Celebrando os 204 anos do início dessa luta, cabe refletir: que forças espirituais e psíquicas moveram aquele povo simples, mas resiliente, a erguer-se após séculos de escravidão sob um império estrangeiro de religião e cultura distintas?
Pesquisadores e historiadores — gregos e estrangeiros — são unânimes em reconhecer o papel fundamental da Igreja Ortodoxa na preparação, na luta e na edificação do Estado grego moderno.
Cinco elementos espirituais e culturais foram decisivos na preservação da identidade nacional:
- a fé cristã ortodoxa;
- a língua grega comum;
- os costumes e tradições;
- a memória histórica compartilhada;
- a esperança em um futuro livre.
Esses mesmos elementos já haviam sido definidos por Heródoto como características essenciais do povo grego durante as Guerras Médicas, séculos antes. Ao longo da dominação turca, a Igreja Ortodoxa preservou o legado bizantino e helênico — copiando manuscritos, mantendo escolas nos mosteiros e alimentando a vida espiritual do povo.
A liberdade em Cristo, cultivada pela Igreja, manifestava-se no cotidiano: nas festas, nas danças, nas celebrações litúrgicas, na vida comunitária. Padres piedosos, como Elias Miniatis, Eugênios Voúlgaris e Nikiforos Theotokis, educados na Europa, encorajaram o povo a permanecer unido e fiel à sua tradição cristã.
Konstantinos Sathas relata que, dos 1.500 eruditos daquele tempo, mais de 1.000 eram clérigos. Foram esses homens que acenderam no coração do povo o amor pela pátria e pela liberdade.
Diversos clérigos participaram ativamente da Revolução: o Metropolita Germanos de Patras, que hasteou a bandeira da revolta; o Patriarca Gregório V, martirizado; o bispo Isaías de Amfissa; Papaflessas, Athanássios Diakos, Ánthimos Gazís, entre muitos outros. O cônsul francês François Pouqueville relatou que 6.000 padres e monges morreram na luta; já o cônsul italiano Domenico Origono destacou que os turcos buscavam prender padres por considerá-los líderes do levante.
Durante os 400 anos de jugo otomano, a Igreja foi a principal força espiritual que impediu a assimilação cultural e religiosa do povo grego. Após a queda de Constantinopla, em 1453, o Patriarcado Ecumênico tornou-se o centro da identidade coletiva dos povos submetidos — um lugar onde religião e identidade nacional se fundiram.
Após a independência, Theódoros Kolokotronis, herói da Revolução, dirigiu-se aos alunos das primeiras escolas livres, dizendo:
“Devem preservar vossa fé e firmá-la, pois quando empunhamos as armas, dissemos primeiro: ‘Pela Fé!’ e, depois: ‘Pela Pátria!’”.
Desde os tempos de Homero, o povo grego não separa sua fé de sua vida cotidiana. A Revolução aconteceu “em nome de Cristo e da Hélade”. Rigas Feraios proclamava:
“Venham com zelo neste tempo, jurar sobre a Cruz!”
Adamántios Koraís afirmava:
“Somente a força do Evangelho pode salvar a autonomia do povo grego.”
Diferente das revoluções europeias, a de 1821 se ergueu contra um império estrangeiro de outra fé e cultura. Por isso, foi uma revolução singular no século XIX: encarnou o anseio de um povo oprimido que havia dado origem à democracia, ao diálogo e ao humanismo.
A Igreja Ortodoxa acolheu e transformou os elementos mais valiosos do helenismo, cristianizando-os e fazendo deles um modo de vida que moldou a santidade de mártires, a vida dos santos e a resistência dos fiéis. Assim floresceram os Kolokotronis, Karaiskakis, Botsaris, Androutsos, Nikitaras, Kanaris, Miaoulis, Ypsilantis — e também as heroínas Lascarina Bubulina e Mando Mavrogenous.
A Ortodoxia entende a liberdade como condição natural da existência humana e como possibilidade de comunhão com Deus e com o próximo — de forma livre, nunca imposta.
“Heróis honrados, homens corajosos, manifestaram-se no ano de 1821 como leões imortais. Vossa glória ilumina o mundo, e vossa presença se apresenta como santificada.”
