«Se…»

Um dos mais belos poemas de todos os tempos de Rudyard Kipling

O poema «Se…» foi escrito em 1895 pelo escritor anglo-indiano Rudyard Kipling (Prêmio Nobel de Literatura – 1907) e publicado pela primeira vez em 1910 numa coletânea de contos e poemas intitulada “Rewards and Fairies”.

Se…

Se és capaz de manter a tua calma quando
todo o mundo ao teu redor já a perdeu e te culpa;
de crer em ti quando estão todos duvidando,
e para esses no entanto achar uma desculpa;
se és capaz de esperar sem te desesperares,
ou, enganado, não mentir ao mentiroso,
ou, sendo odiado, sempre ao ódio te esquivares,
e não parecer bom demais, nem pretensioso;
se és capaz de pensar –sem que a isso só te atires,
de sonhar –sem fazer dos sonhos teus senhores.
Se encontrando a desgraça e o triunfo conseguires
tratar da mesma forma a esses dois impostores;
se és capaz de sofrer a dor de ver mudadas
em armadilhas as verdades que disseste,
e as coisas, por que deste a vida, estraçalhadas,
e refazê-las com o bem pouco que te reste;
se és capaz de arriscar numa única parada
tudo quanto ganhaste em toda a tua vida,
e perder e, ao perder, sem nunca dizer nada,
resignado, tornar ao ponto de partida;
de forçar coração, nervos, músculos, tudo
a dar seja o que for que neles ainda existe,
e a persistir assim quando, exaustos, contudo
resta a vontade em ti que ainda ordena: “Persiste!”;
Se és capaz de, entre a plebe, não te corromperes
e, entre reis, não perder a naturalidade,
e de amigos, quer bons, quer maus, te defenderes,
se a todos podes ser de alguma utilidade,
e se és capaz de dar, segundo por segundo,
ao minuto fatal todo o valor e brilho,
tua é a terra com tudo o que existe no mundo
e o que mais –tu serás um homem, ó meu filho!


Fonte: Revista Prosa, Verso e Arte.